Luto: faleceu o Professor Luís Rios de Moura Baptista u2i1m

O Professor Emérito da UFRGS será velado nesta sexta-feira, 3/1/2025 na Capela B do Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre, entre 11 e 17h. Faleceu no Hospital da PUC nesta quinta-feira, à tarde, vítima de insuficiência cardíaca quando estava se submetendo a exames do estado do coração e artérias.

Nascido em 22 de novembro de 1936, fez parte do grupo fundador da AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, em 1971, e continuou como conselheiro da entidade em diversas gestões. Também adquiriu diversas áreas naturais para viabilizar a conservação perene e formou diversas gerações de botânicos na UFRGS. Recentemente, doou a Reserva Particular do Patrimônio Natural “Mata do Professor Baptista”, que mantinha no Município de Dom Pedro de Alcântara, ao Instituto Curicaca.

Em 2016, recebeu da UFRGS a maior distinção da Universidade: o título de Professor Emérito.

Luís Rios nasceu em Porto Alegre. Em 1956, fez o vestibular para História Natural — chegou a pensar em fazer o vestibular para Agronomia, mas entendeu que estava mais preparado para a prova de ingresso na História Natural. Tornou-se Bacharel em 1958 e Licenciado em 1959. Trabalhou como aluno-assistente no Instituto Tecnológico do RS estudando anatomia da madeira.

Depois de formado, recebeu uma bolsa do da USP, aonde aprofundou o conhecimento sobre ecologia vegetal, fisiologia do desenvolvimento / fotoperiodismo. Voltou para Porto Alegre em 1962 para assumir na UFRGS o cargo de professor auxiliar de ensino, escolhido pelo catedrático Alarich Rudolf Holger Schultz. Em 1967, foi à Alemanha, na Universidade de Göttingen, estagiar sobre ecologia, retornando em 1969. Na volta, ou a estudar as algas marinhas nos rochedos de Torres, RS, defendendo tese de doutorado em 1975 sobre a ‘Flora Marinha de Torres’. ou a orientar estudantes do pós-graduação principalmente sobre “ecologia de floresta”. Em 1985, tornou-se Professor Titular e em 1990, aposentou-se.

Foi Chefe do Departamento e coordenador do curso de Pós-Graduação em Botânica na UFRGS. Não se adaptou à atividade istrativa: “não é a minha vocação”. Dizia que tinha vocação de ‘observar a natureza’. Atribuía a pouca produção científica ao interesse em ‘observar’. Contentava-se em ver e saber as coisas. Interessou-se desde cedo pela ‘conservação da natureza’.

“Basta ter os olhos abertos para ver que as florestas, os campos, toda a natureza vai sendo modificada pela atividade humana. Então eu entendo que a alteração do ambiente natural é uma fatalidade. Mas isso não quer dizer que a gente não possa conservar uma parte. A gente sabe que essa degradação do meio ambiente está ligada à pobreza, à degradação da sociedade humana também — o que me parece que a maioria das pessoas não compreende ou não quer compreender. Existe um ‘progresso’, e o progresso é destruição — quando a verdade é que progresso e conservação deveriam andar juntos”.

O Professor Baptista dizia que havia sido influenciado pelos artigos publicados por Henrique Luís Roessler no Correio do Povo Rural: “um grande batalhador que não cheguei a conhecer pessoalmente”. Foi influenciado também por José Lutzenberger, a quem conheceu pessoalmente. Participou do estabelecimento da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul.

Adquiriu uma área de mata atlântica em Dom Pedro de Alcântara que depois tornou-se a Reserva Particular do Patrimônio da Natureza – RPPN “Mata do Professor Baptista”, onde observava a natureza e levava seus alunos para fazerem trabalhos. A área foi reada para a istração do Instituto Curicaca há alguns anos. Também adquiriu uma área de butiazal que hoje está inserida no Parque Estadual de Itapeva.

Sobre a valorização de artigos científicos dizia que ‘acho muito errado a publicação em revistas estrangeiras — temos que ter boas revistas brasileiras e publicar revistas nacionais em nossa língua, não em inglês’. ‘Nada contra o inglês, mas acho que temos que formar um acervo brasileira de literatura em biologia ível aos brasileiros. Estamos tornando íveis às pessos de todo o mundo, o que não é mal, deixando de fora os brasileiros que de forma geral não lêem em inglês”.

Considerava que havia se aposentado ‘bastante moço’, aos 56 anos, mas continuou tendo atividades na Universidade no curso de pós-graduação. “Vivi boa parte da vida na UFRGS”.

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A AGAPAN por meio de seu presidente Heverton Lacerda, remeteu ao agirazul.noticiasgauchas.com a seguinte nota: “O professor Luís Rios de Moura Batista, associado de longa data da Agapan, além de saudade deixa o legado de uma vida dedicada à educação e à proteção ambiental. Ele seguirá vivo em nossa memória e agora une-se à nossa “equipe” de precursores que já partiu deste plano terrestre, mas que segue velando pela salvação de nosso planeta tão maltratado e iluminando os caminhos de quem segue por aqui por mais um tempo.”

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“É com muita tristeza que informamos o falecimento de nosso querido associado Luiz Rios de Moura Baptista. Esse naturalista fantástico, cercado de iração e reconhecimento pelos seus feitos na conservação da natureza, nos deixa um enorme legado. Agradecemos pelos aprendizados e momentos de convívio, pelas lutas ambientais que travamos juntos, especialmente pelas diversas Unidades de Conservação que ajudastes a criar e a manter, pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, onde fostes um dos pilares, e pela Reserva Particular de Proteção da Natureza, que leva teu nome e nos foi doada por ti no ano ado para cuidarmos desse teu eterno pedacinho na Terra. Nossos sentimentos à familia! Como conforto, temos a certeza que o Baptista construiu um caminho verde, florido, iluminado e repleto de cores e sons da natureza, pelo qual está agora flutuando em direção a outros e mais elevados sentidos. E fique tranquilo amado Baptista! Aqui estaremos humildemente continuando a tua obra, inspirados na tua existência tão sensível e sutil e ao mesmo tempo capaz de ser imensamente transformadora! Siga em paz amigo!”

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A Universidade Federal do Rio Grande do Sul publicizou nota em que afirma:

É com profundo pesar que a comunidade da UFRGS recebe a notícia do falecimento do Professor Emérito Luís Rios De Moura Baptista. Ligado ao Departamento de Botânica, onde atuou por mais de meio século, o docente dedicou-se ao ensino, à pesquisa e a defesa da natureza.

Conforme o professor Paulo Brack escreveu em seu perfil no Facebook, mesmo com a partida do mestre, seus ensinamentos seguem presentes. Ao lado de alguns colegas “há uns 50 anos ou mais, tinha combinado de comprar áreas para preservar. Adquiriu, entre outras, uma das últimas áreas de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, que se tornou posteriormente uma RPPN, em Dom Pedro de Alcântara. Também comprou uma área pequena de butiazal (Butia catarinensis) com espécie ameaçada de extinção em desaparecimento, em Torres, ao lado do Parque Estadual de Itapeva. Com colegas, também adquiriu outra área florestal em Mariana Pimentel, com população densa de palmeira-juçara, igualmente sob risco de extinção”.

Como orientador, formou muitos mestres e doutores e tinha uma forma muito particular de ser, sempre reflexivo com temas da Botânica, “sempre com um sorriso no rosto, questionava muita coisa de forma a quebrar com paradigmas e conhecimentos muito consolidados, e fazia a gente pensar um bocado”, pontuou Brack, acrescentando que Luís Rios foi um cientista de uma sensibilidade extraordinária com a natureza. “Ela tinha uma forma educada e atenciosa de lidar com as pessoas, o que hoje em dia é algo já quase raro. Dessa maneira, ensinava a observar, sem pressa, as dádivas da natureza, seu significado e seu conhecer do muito que a desapercebido pela maioria das pessoas”, concluiu.

O docente, que havia completado 88 anos em 22 de novembro, recebeu o título de Professor Emérito na UFRGS em junho de 2016.

SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente q1065

Nada no site da Internet até às 18h39min. No meio da tarde, publicou na rede social uma nota de pesar elogiando o trabalho do Professor Baptista: “Sua dedicação à preservação ambiental no Rio Grande do Sul foi exemplar“. Historiou a participação na Comissão Verde na década de 70 e essencial na criação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação. No início da tarde, o editor do agirazul.noticiasgauchas.com solicitou manifestação do Governo do Estado/Governador, em nome dos gaúchos, mas o pedido foi encaminhado à SEMA que publicou no meio da tarde a nota neste link.

ASSEMA – Associação dos Servidores da SEMA 6v721q

A ASSEMA vem a público manifestar sua profunda tristeza com o falecimento do professor Luís Rios de Moura Baptista. Biólogo naturalista, Baptista deixa um legado ímpar em sua luta ambiental e empenho incansável pela conservação da natureza e dos ecossistemas nativos do RS. Baptista teve uma contribuição significativa para o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), pois foi um dos responsáveis por definir as áreas estratégicas para criação das primeiras Unidades de Conservação do Estado!!

Homenageado como professor Emérito pela UFRGS em 2016, Baptista foi ativo no movimento de articular a compra de áreas importantes para conservação e sob intensa ameaça, garantindo sua conservação, como sua Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em Dom Pedro de Alcântara, um dos últimos redutos de Floresta Ombrófila Densa de terras baixas e que foi lindamente doado ao Instituto Curicaca, para cuidar e manter esse bem coletivo precioso.

Sua atuação também permitiu a conservação de um dos últimos remanescentes no estado de Butia catharinensis (butia-da-praia) no entorno do Parque Estadual de Itapeva, assim como de palmeira-juçara (Euterpe edulis), ameaçada de extinção, em Mariana Pimentel. Foi um dos pilares na criação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no RS e atuou incansavelmente em seu Comitê Estadual. Orientou e inspirou dezenas de alunos na Botânica da UFRGS. Sempre reflexivo, questionava, interpelava e provocava as pessoas a pensar com profundidade e de modo holístico, sem perder sua serenidade e seu sorriso peculiar e memorável.

Por onde trilhares, em mundos mais elevados, que tua existência singular siga encantando, com tua graça e sabedoria repleta de Vida 💛🌳 E para os que ficam, tu seguirá vivendo em nós! 🌱🌿✨

Veja também: 205n5

— 2023 – Artigo de Silvia Marcuzzo – Um professor em extinção – Luís Baptista recebeu prêmio pelo conjunto de sua obra em defesa da conservação da natureza

— 2026 – Luis Rios de Moura Batista é homenageado com o título de Professor Emérito

— 1993 – Luís Rios luta por Parque em Torres – AgirAzul – Edição 7 – versão em PDF

— Consulta no Google sobre “Luís Rios de Moura Baptista”
— Consulta no Lattes / CNPQ

1. Depoimento de Luís Rios de Moura Baptista em 26/07/2011 para o projeto Memória em Vídeo dos Botânicos do Brasil. (link)

Redação do Jornalista João Batista Santafé Aguiar  Assine o Canal do agirazul.noticiasgauchas.com no WhatsApp – todas as notas publicadas aqui e algumas mais no seu celular. Link para contatos e envio de materiais para o AgirAzul ou direto via whatsapp.